segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O pacto

Eu não queria ser surpreendida por mais alguém enquanto me enfiava dentro daquelas roupas, olhei ao redor , uma porta ao lado direito só poderia ser o banheiro e eu estava certa quando girei a maçaneta. Um sorriso curvou meus lábios ao me deparar com uma jacuzzi adornada com velas aromáticas exalando um aroma agradável. Alfazema, meu preferido. Toquei a espuma na superfície, sais de banho. Claus...  Sorri ainda mais me permitindo um banho mesmo que rápido, descansei minha cabeça enquanto meu corpo absorvia algo naquela água . Sussurei as palavras em latim ordenando que meu oculto  recuasse e novamente meu corpo foi acometido por milhares de ferrões de Escorpião. As vezes me sentia mais humana dessa forma, meus cabelos tornaram-se vermelho quando Scorpion se alojou em meu peito aprofundado-se em minha pele até não se tornar mais visível, o vermelho sangue de meus lábios foram substituídos por uma cor natural, olhos humanos jamais acompanhariam tal feito, meus olhos assumiram sua cor de origem. Permaneci por vinte minutos naquele local deixando que minha mente vagasse por uma outra época, tentando resgatar algo que pudesse me permitir resolver as questões do presente, ondas de ódio e sede de vingança iam e vinham constantemente e eu sabia que isso era devido ao lado negro do meu signo, estava cada vez mais difícil controlar Scorpion. Definitivamente terei muitas coisas para questionar a Claus , e, teria que ser agora.

                               ***
- Pelos guardiões! Estais resplandecente.-  Sempre formal, Claus jamais deixará de ser um cavalheiro. Olhei ao redor , uma janela ampla exibia as ruas lá embaixo repleta de fiéis, o cômodo não dispunha de muitos objetos, apenas uma mesa com café da tarde, uma lareira, um armário com castiçal -que eu suspeitava esconder artefatos antigos por trás da parede -e três homens que me observavam como se eu fosse quebrar com um simples toque. Tolos!
- Claus...
- Milaide, permita-me. - Claus puxou uma cadeira para que eu pudesse me sentar. Dois pares de olhos acompanhava toda cena, isso era irritante.
- Obrigada.- Antony desviou o olhar quando eu o encarei. - Claus preciso de respostas.
- Creio, que sim. Mas não podeis deixar para um outro momento, senhorita? Deveis se restabelecer por hora.
- Claus meu querido amigo, acreditais que eu tenha tempo a perder?
- Perdoe-me mas ainda não tens forças suficiente para travar mais essa batalha. - Definitivamente eu estava perdendo a paciência, cada segundo perdido era a vida da jovem em perigo.
- Acho que ele está certo. - todos olharam ao mesmo tempo para o homem sentado à minha frente. Seus olhos castanhos esverdeados fitou-me , forcei   um pouco para ver sua alma, ela reluziu um tom prateado. Endireitou os ombros como se tivesse orgulho do que me exibia.
- Quem és esse espécime? Claus ?
- Oh , Milaide perdoe-me. Esse é o tenente Ryan. Um de nossos melhores agentes, está investigando sobre o caso.- Claus cansado da vida monótona havia prestado para o exército suas habilidades eram fora do comum.
- Tenente Ryan... - Novamente estreitei os olhos para avaliar melhor o que eu havia visto. Antony ao ver a expressão de espanto no rosto do Tenente apressou -se a explicar com um tom brincalhão em sua voz.
- Calma soldadinho ela só está verificando sua alma, ela pode ver a podridão se você a esconde. Infelizmente ela é a única que pode ver isso. Se você estiver mentindo ela te pega, se estiver escondendo algo ela te pega e se estiver com qualquer intenção errada ela te mata. Simples assim.

O pobre rapaz deveria estar tremendo em sua cadeira, no entanto, tudo que fez foi fechar o punho tão fortemente que os nós de seus dedos tornaram-se brancos. O que ele não sabia era que além de ter uma alma pura era de uma raça quase extinta. Se os guardiões eram antigos na terra a raça a qual ele pertencia era uma lenda. Não me surpreende o fato de Claus confiar nele, qualquer um confiaria.

- É uma honra estar em sua presença.- Fiz uma pequena reverência, e, até mesmo Claus ficou surpreso com minha atitude, não disse nada, tampouco, me dirigiu um olhar de " explique-se". Ryan retribuiu com um sorriso. Antony do outro lado da mesa olhou-me furioso mas não disse uma palavra.

Domínio

- Os Hakans! Temos que sair daqui, não posso protegê-la neste lugar.

Levantei com agilidade enquanto Antony tentava inutilmente me arrastar, mesmo sem poder usar todos os meus dons eu ainda poderia usar os elementos a meu favor. Levantei uma das mãos me concentrando na água que estava ali perto. Um homem com cara de poucos amigos apontava uma arma em nossa direção, distraída com ele não vi quando outro atirou, certamente foram muito bem treinados . Fui novamente lançada ao chão, algo atingiu meu ombro a dor era quase insuportável, olhei para ver o estrago que a bala havia feito e esperava a cura acelerada mas não havia projétil somente estilhaços de um metal reluzente. Não muito longe de mim, Antony com uma habilidade acima do meu nível desferia golpes em três homens, estava cercado mas isso parecia o divertir. Seu olhar tornou-se sombrio quando encontrou os meus, sussurrou algo e novamente o Viking imponente estava diante de mim, nada mais de pele com bronze caribenho. Diante de mim estava o guardião. Na forma humana em sua essência nossa cura fica um pouco lenta, isso significava que eu teria um pouco mais de trabalho. Enquanto isso bolas de fogo cruzavam o ar chocando-se contra outras. Mas como isso era possível? A batalha nos fez sair do ponto de equilíbrio permitindo que Antony pudesse desempenhar melhor suas habilidades. Uma garota partiu para cima de mim pelas costas entoando um canto desconhecido, senti o sangue gelar em minhas veias como há século não sentia. Como pude ser tão descuidada? Não percebi sua aproximação. A garota de estatura mediana tentou tocar meu peito, no entanto algo aconteceu, dedos longos caíram a minha frente e o sangue que não era meu jorrava sem parar. A garota gritava sem parar enquanto era arremessada por mim chocando-se em um tronco. Senti uma onda de energia muito parecida com a minha vir do meio da mata. Um lobo de olhos azuis iguais ao de Claus surgiu diante de mim emitiu um uivo que me fez estremecer, eu estava ficando fraca. Algo estava sendo drenado de mim.

- Minha senhorita...- Escutei a voz de Claus, então soube o que precisava ser feito.
- Scorpion Liberium umbre.- Disse antes de minha mente se envolver na escuridão e meu corpo foi ao chão. O último som que ouvi foram gritos de horror e membros sendo decepados depois nada mais.

"-...Acha que ela pode acordar?
- No momento não mas se eu não terminar isso ela pode acordar antes mesmo de eu remover a bala. Como você permitiu que isso acontecesse Antony? - eu conhecia essa voz, era Claus e ele não parecia nada feliz.
- Eu tentei impedi-la de morrer. Isso não é o suficiente?
- Talvez para você. Na verdade quem impediu tudo isso foi Scorpion se não fosse o ciúmes que ele sente por ela você jamais estaria aqui.

- O que você quer dizer com isso? Foi por pouco, ele quase arrancou a minha cabeça! - A voz de Antony soou um pouco mais alta.

-Pronto! Retirei a bala, agora o processo de cura irá se iniciar. Os Hakans tem investido muito em conhecimentos para criar armas que podem retardar a cura.
- Poderia responder a minha pergunta?- Antony soara impaciente

-Você acha que Ashy é indefesa, que ela é uma mulherzinha qualquer precisando de um Príncipe para protegê-la!? Mas eu te digo meu jovem você está muito errado, ela vai lutar a cada segundo pela vida dela. Scorpion só o deixou vivo porque viu que você pode protegê-la se algo acontecer, só por precaução... Mas o ciúmes dele é tanto que se libertou antes mesmo dela fazer isso e qualquer um que se atrevesse chegar perto dela teria o mesmo destino que os mais de quinze Hakans tiveram. Scorpion pode ter um lado negro mas é Ashy quem ele quer, ela é a sua princesa, mesmo quando eu a encontrei ele já havia reivindicado para si.- Escutei a porta se abrir e passos firmes se direcionaram a mim- Tenente Ryan que bom vê-lo. Descansar - provavelmente esse tal tenente deveria estar fazendo a saudação militar.

- Bom vê-lo também, Major. Aqui estão os dados que me pediu, o campo já está limpo.- Uma voz firme, porém, jovial. Como seria o seu rosto? Fui interrompida de meus pensamentos quando Antony se pronunciou.
- Se eu fosse você não faria isso. Ela tem um cara bem ciumento que não pensaria duas vezes antes de arrancar sua cabeça.
- Eu só queria tocar-lhe a face, ela é tão linda...

- É por que você ainda não conhece o gênio dela quando está acordada- Foi a vez de Claus falar seguido por uma risada contida. Senti as mãos de Claus girar meu corpo para que eu ficasse de lado- Vejam, Scorpion está fazendo um bom trabalho. Isso garoto! Vejam como as pinças trabalham no ferimento .
- Até parece que um bicho desse pode curar. - A voz do novo homem pronunciou-se e Scorpion parou o que estava fazendo somente para que o seu tamanho fosse aumentado vezes mais.

- Tenha mais respeito Tenente. Ele é o motivo dela estar viva.
- Peço desculpas. Pensei que guardiões não podiam morrer.
- E não podem, não de forma convencional. Nenhum ser humano pode matar um guardião por armas comuns.
- Doença não nos afeta e nem a ação do tempo.- Disse Antony.
Houve um breve silêncio e o novato perguntou:
- Então o que aconteceu com ela?
- Ashy estava vulnerável quando a garota tentou usar magia negra nela junto com o selo, mas foi detida antes de completar o que estava fazendo. Ela foi muito bem treinada.- Claus deu um suspiro ruidoso parecia exausto. - Por isso foi difícil retirar a bala, ao que parece foi feita exclusivamente para ela.
- Como assim?- a voz de Antony soou um pouco mais alta que o normal.
- As sombras que se esconde em Ashy parece querer domina-la. Sei que existe algo de bom nela mas a bala fora projetada com o pedaço de um artefato da oitava casa, a casa de escorpião. Deixe-me explicar melhor, todos os humanos são nascidos sobre um Signo regente mas poucos tem o domínio sobre isso, alguns são recrutados para o que chamamos de exército dos guardiões e outros para ser um guardião. Aqueles que fazem parte do exército são treinados para a defesa dos pergaminhos milenares, são de suma importância, em mãos erradas acontece o que vocês estão vendo aqui. Os guardiões por sua vez são os príncipes e princesas descendentes dos primórdios, a realeza dos signos.

- Por que ela foi descrita como princesa Scorpion? Até onde eu sei você a salvou e transferiu seu poder a ela.
-Como sois ingênuo meu caro! Eu sou o segundo decanato, sou tão negro quanto você. Mas ela me fez ver o mundo diferente- Escutei um objeto ser arrastado e supus ser uma cadeira- Há milênios de anos rumores diziam que um guardiã tão forte poderia afetar os monarcas, exceto se a criança fosse recrutada para as trevas. Uma grande batalha fora travada entre os membros da balança. Parte julgava necessário o extermínio dessa ameaça, no entanto, outra defendia a vida e a profecia. Seria uma guerra entre mundos. Fui designado a acabar com a vida da criança, só não estava preparado para o que eu iria encontrar. Chegando ao vilarejo vi uma menina de olhar profundo, por seu rosto corriam lágrimas. Carregava consigo um animalzinho muito ferido, quando me aproximei perguntando o que ela carregava, a pequena criança caiu de joelhos e disse-me " Eles o machucaram monseur, ele está morrendo..." , toquei sua pequena mão e fui recompensado com uma energia nunca vista. Os olhos que estavam carregados de lágrimas tornaram-se sombrios .
- Afinal, Major o senhor matou a criança?
- A criança ,Tenente Ryan, tornou-se esta mulher e o poder que ela possuía eu o tomei para mim, para protegê-la.
- Mentira!- Antony parecia irritado.
- Se eu a deixasse com o domínio seria o fim para ela! Quando retornei diante da balança disse que eram somente rumores, que a criança não existia. Uma vez que eu possuía o controle do seu poder ela jamais seria encontrada. Ao menos foi o que eu pensei. Mas o destino queria que a profecia se cumprisse. Eu a encontrei a beira da morte durante a peste negra, devolvi seu legado. Algo aconteceu naquele dia, algo que a dividiu. Parte luta para ser boa mas a outra destrói sem piedade.
- Ela ainda pode por fim a tudo?
- Isso somente ela poderá decidir, mas o que vocês viram essa noite é parte do que Scorpion pode fazer para defender Ashy, os dois tornam-se um só quando ela está inconsciente. Chega por hora! Vamos deixa-la se reestabelecer.

Ouvi passos se afastar e o fechar da porta. Então foi Scorpion quem fez toda aquela destruição ?Eu sou a destruição...

Se havia alguma chance de acabar com tudo isso eu tinha que tentar. Forcei meus músculos , pareciam serem feitos de aço, pesavam tanto... Procurei por Scorpion chamando-o em pensamento. Vamos lá garoto, venha! Eu sei que fui mesquinha deixando-o fora da batalha mas preciso de você agora. Por favor Scorpion... Estava começando a desistir, no entanto, fui recompensada por minha insistência. A energia que vinha dele era forte me envolvendo completamente, embalava-me com carinho. Um som agradável era emitido de alguma parte. Quem cantava? Era uma voz sedutora, tentei novamente mexer meus músculos e nada aconteceu.
"- Fiqueis quieta Ashylei, não torneis meu trabalho mais difícil."
Fui surpreendida por uma voz profunda e autoritária , não vinha do lado externo parecia vir de minha mente. O único que possuía esse dom era Claus em sua forma transmutada e Antony quando invadiu minha mente . Uma risada contida fez-se escutar então procurei observa-la.
"-Assim está melhor. Acreditas que o guardião e vosso tutor tens esse poder? Minha doce Ashylei tens tão pouco apreço por mim? Deveras eles podem fazer isso, mas com o nosso consentimento. Deveis lutar contra as trevas que há dentro de  ti. Tens força para isso, senhorita. Lute, agora!"
- Estais a invadir minha mente monsieur. Quem és?
- Enfim podeis responder-me , senhorita. Como não me reconheces se me chamaste?
- Eu não o chamei. Dizei-me vosso nome.
- Como desejais. Me conheceis como Scorpion.
- Scorpion!
- Sim milaide . Me chamaste e aqui estou.
- Não posso vê-lo.
- Concentre-se em mim, milaide. Abra a sua mente. Tens que compreender que sua evolução depende de seu crescimento espiritual- Forcei minha mente naquela escuridão e aos poucos tudo foi ficando claro, não gosto de perder o controle das coisas e estar nessa posição não é nem um pouco confortável. Senti a brisa tocar meu rosto, inspirei o ar puro. Eu jamais vira um lugar como este, assemelha-se a Grécia antiga, os templos sagrados mas com um toque místico. Olhei ao meu redor absorvendo tudo -  Enfim podeis ver-me.
Ergui os olhos até uma escadaria talhada em marfim.
- Scorpion!
- Por que estais tão surpresa milaide?
- Você deveria... deveria...
- Parecer-me um animal? Talvez, em seu mundo.- Deu de ombro como se isso fosse a coisa mais comum. Scorpion não era apenas um homem mas o mais lindo que já vira, até mesmo o Viking sedutor não chega ao seus pés. Certa vez Claus disse-me que herdamos um pouco a beleza de nosso decanato mas nunca imaginei como seria nosso zodíaco. Scorpion sorriu mostrando dentes alvos, seus olhos negros como a noite não desgrudaram dos meus enquanto descia os degraus. Parou diante de mim, tomou minha face entre suas mãos, ele era forte mas não me segurava de forma que pudesse me machucar e era quente... Mas como posso sentir calor se os guardiões não sentem frio ou calor?-  Ashy...

Sua voz saiu como um sussurro rouco ao aproximar seu rosto do meu. Eu deveria estar imaginando coisas. Seria isso mesmo, ser beijada pelo Deus do zodíaco? Eu não podia acreditar.

- Scorpion. Eu...
- Shhhhhh. Há mais de quatrocentos anos espero por isso.
- Mas o veneno pode mata-lo.

Apressei em dizer, não sabia se isso poderia acontecer e como se provasse isso Scorpion sorriu e tocou meus lábios com os seus. O beijo era doce e profundo, intenso como em tudo que éramos. Minhas mãos que pendiam lateralmente ao meu corpo parecia ter vida própria tocando-lhe os cabelos negros e macios um pouco comprido demais, depois os ombros fortes. A exploração não parara por aí eu necessitava de mais, o torax musculoso tão forte quanto. Meus olhos permaneceram fechados mesmo após o beijo ter cessado saboreando meu primeiro beijo, os abri quando Scorpion se pronunciou.
-Vamos, tenho que mostrar-lhe uma coisa.
- Claro.
Caminhamos por cerejeiras e manacas, não muito distante dali um rio margeado por agatas azuis e pedras ônix, eu sabia que essas pedras contiam energia suficiente para nos equilibrar.
-Por aqui.
Chegamos a parte estreita do rio, Scorpion moveu um grande volume de água apenas para resgatar uma pedra rosa claro quase translúcida, eu podia mover a água mas não como ele. Quando o indaguei sobre a pedra de energia diferente ele apenas sorriu dizendo que tudo ao seu tempo. Colocou um cordão negro em torno da pedra oval amarrando-a , fez sinal para que eu me virasse puxou meus cabelos lateralmente depositando um pequeno beijo em meu ombro quando olhei para baixo lá estava a pedra depositada em meu pescoço.
- Obrigada, nem sei o que dizer.
- Não diga nada, apenas aceite.
- Quando eu voltar para meu mundo tudo isso acabará.- Um pesar apoderou-se de mim eu sabia que a guerra estava apenas começando.
- Dance comigo, milaide.
Como um verdadeiro membro da realeza ele estava fazendo mesura , quando sorri aceitando o pedido Scorpion levantou-se soprou o vento e notas de músicas celtas chegou até mim. Conduziu-me com classe, a muito eu não dançava dessa forma, meus dias eram feito de batalhas. Quando a música acabou Scorpion chamou-me mostrando o quanto eu devia me preparar para o que nos aguardava. O arsenal de batalha era grande mas ele me ensinara que a verdadeira arma está dentro de nós. Toquei uma espada igual a espada que eu usada em minhas batalhas.
- Isso mesmo milaide essa é uma versão mais pesada da sua espada, também fora forjada na força e coragem dos Emirados de Kasar eu mesmo os ajudei a forja-la. A sua fora feita com mais elegância digna de uma dama mas não menos potente. Aqui, pegue-a vamos nos aquecer um pouco.
Ele sorriu pegando para si uma espada um pouco mais pesada. Duelar com Scorpion seria uma honra.
- Estais a testar-me?- Sua risada era contagiosa.
- Apenas seduzindo-a.
Os golpes eram firmes, desferidos com destreza ele era hábil em pouco tempo de duelo eu já estava com a espada em seu pescoço assim como a dele estava no meu, nossos rostos frente a frente. Eu estava ofegante mas Scorpion parecia impecável, sorriu e puxou-me para um beijo.
- Muito bom, milaide.-Eu não sabia se ele estava se referindo ao duelo que acabara empatado ou ao beijo.- Está na hora de você voltar. - Suspirei em tristeza, estava segura ali com Scorpion eu podia sentir a  tranquilidade vir dele mesmo sabendo o quão intenso ele era. Enfim deixei-me voltar ao meu mundo. Tudo parecia surreal. Pois é...  Eu estava com tanta raiva por ter sido apanhada, por estar naquela situação.
2016 ano bissexto, geralmente anos bissextos nos conferem um poder especial como se algo pudesse nos conectar com a vida. Aos poucos tomei consciência do meu corpo, as pernas assim como meus braços estavam pesados demais. O ruído que vinha da porta chegava facilmente aos meus ouvidos, Scorpion  continuava em sua forma animal alojado em minhas costas, tentei levantar, nada parecia normal. Respirei fundo, abri os olhos devagar até mesmo fazer isso parecia difícil, enfim, consegui sentar-me na maca, ao lado alguns instrumentos cirúrgicos estavam dispostos, assim como o tubo conectado ao meu braço. O que era aquilo? Nunca em minha existência eu havia usado aquilo, sou uma guardiã e guardiões não precisam de coisas de humanos.
Olhei ao meu redor, era um lugar novo. Novamente os sons chegavam aos meus ouvidos, eu sabia quem era antes mesmo da porta se abrir. Fechei os olhos e quando abri lá estava ele, o Viking.
- Oh, Senhorita não devia levantar-se.
- Estou bem.- Toquei os tubos conectados ao meu braço.
- Se eu fosse você não faria isso. - Ele exibia um sorriso amistoso. Como se isso fosse me fazer mudar de idéia.
- Mas você não é. -Em poucos segundos eu estava livre daqueles conectores. A porta abriu e Claus com sua postura inabalável me olhou profundamente, essa era a vantagem de possuirmos o mesmo signo protetor, nada precisava ser dito.
- Quando partiremos? - perguntei.
- Ao amanhecer, Milaide. Se estiver em condições.
- Melhor impossível. - Eu não poderia perder mais tempo. - Aliás, por quanto tempo fiquei inconsciente?
- Três dias, Milaide.
- Três dias?!
-Sim. - Claus olhou para o Viking que retribuiu com outro olhar ainda mais severo.
Levantei-me no momento em que um rapaz não tão alto quanto Antony, o qual eu chamo de Viking sedutor entrou na sala, o lençol que cobria meu corpo deslizou revelando grande parte . Deveriam ter preservado ao menos as lingerie, assim evitaria essa cena constrangedora.
- Oh, me desculpe Senhorita. Eu... eu não tive a intenção de vê-la...
- Até parece que o soldadinho aí nunca viu uma mulher seminua - Antony ria de uma forma profunda.
- Antony!- Claus era defensor dos bons costumes e perdia a paciência com facilidade.
- Para seu governo, não sou um soldadinho. Sou Tenente. Tenente Ryan.- virou-se para mim e continuou- Me perdoe, Senhorita.
-Tudo bem Tenente, apenas bata na porta da próxima vez.
- Sim senhora.
-Claus?
-Certo, suas novas roupas estão aqui. Vamos, ela precisa vestir-se. - Todos viram-se para sair, todos exceto o Viking.
-Hamm, Claus. Espartilho novamente?
- Elegância, Milaide. Elegância.
-Sei.- Olhei para o Viking esperando que ele saísse.- Quer que eu te ensine o caminho da porta?- ele se aproximou, sorriu e disse:
- Você fica linda de espartilho mas fica melhor sem ele.
- Saia!
O Viking sedutor nada mais disse, virou-se e saiu com um sorriso, ele sabia ser irritante. Peguei o espartilho em tom azul royal e a calça de couro preta que assim como as outras fora projetada para mim. Scorpion não se manifestou , porém, eu o sentia e isso era um sinal de nossa conexão. Toquei o local do ferimento onde resta apenas uma pequena cicatriz ainda muito sensível ao toque, mais uma para minha coleção, o difícil era entender por quê eu estava sentindo. Decidi não me preocupar tanto com isso, peguei minhas armas sagradas.
- Hora de acabar com isso. - disse para mim mesma.