quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Aliança


- Pelo que vejo jovem dama, fostes bem instruida por seu tutor, consegue distinguir a casa e também a qual posição ocupamos, se é a primeira ou segunda. No meu caso sou sim o segundo decanato, uma vez que Ariane esteja impossibilitada de executar suas funções... Eu como bom ariano não poderia deixar de prestar contas.
- Acho melhor você tirar esse sorriso idiota do rosto, se bem conheço Ariane ela jamais se permitiria deixar ser vencida por você.
- É melhor sairmos daqui. Vou mostrar-lhe que posso ser muito generoso quando quero,
- Não me importa o quanto você seja generoso. Não estou a venda. A não ser que me entregue Lilian.- Eu era alta mas ele com certeza era maior,  exalava força e determinação.
- Rá rá rá... Lilian? Não passa de uma pequena peça que poderá ser descartada. Venha não querermos chamar a atenção. Querermos?- Eu nunca havia visto alguém com um sorriso tão estonteante! De onde vinham esses pensamentos? De alguma maneira as sombras dele foram se fechando em torno do meu pescoço tentando me sufocar, antes que eu me desse conta sua mente invadiu a minha deixando-me confusa. Vi minhas irmãs Ruth e Dorothy correndo pelas ruas de Londres, risonhas, enquanto eu carregava um cesto de roupa limpa a serem entregues. Era antes da peste, tudo era calmo e as pessoas se cumprimentavam com gentileza. E quanto eu caminhava com o cesto que exalava perfume de sândalo ouvia-se borburinhos das donzelas junto a fonte, não possuíam mais que dezessete anos, curiosa aproximei-me para saber de que se tratava os risos quando Dorothy me puxou pelo braço, apesar dos seus quinze anos era quase da minha altura:
- Ele é lindo Ashylei!
Não pude deixar de rir ao notar que todo aquele borburinho dava-se a um jovem rapaz. Ele estava sentado junto a fonte com um violão azul cobalto. As notas entoadas por ele me acalmavam, algo saía dele, uma energia forte e vibrante. Como se por algum motivo aquele forasteiro pudesse sentir a mesma onda de calor olhou-me com intensidade. Tomada por aquela sensação estranha meus braços fraquejaram como se a minha alma estivesse sendo exaurida de meu corpo, o cesto foi-se ao chão fazendo-me recobrar de minha tarefa. Recolhi tudo com rapidez, dirigindo-me ao mercado para fazer minha entrega, deixei aquela bela voz tornar-se uma lembrança.

- Hey ! Ashylei esparai-me.

- Dorothy comporte-se , sabes que nossa mãe não aprova tais comportamentos . Então ande com graça e não correis como garotos.

- Sim eu sei perdoe-me. Podemos ir até a igreja depois?

- Mas é claro que sim, faremos uma visita ao Bispo.

Senti novamente uma onda de energia mas dessa vez fui sugada para uma outra lembrança...

Marcius sorria, um sorriso tímido porém levara consigo parte de meu coração. Todas vez que pronunciava meu nome inevitavelmente aquecia minha alma, em sua presença as palavras não se tornavam coerentes. Eu fechava os olhos para que pudessemos conversar, ele não continha o riso e dizia:

- Deixai-me ver o sorriso em teu olhar Ashylei, tens o olhar mais cativante que já vi minha senhorita. Quisera eu poder desposar estes olhos pela eternidade e que nada possa impedir-me de apreciar tua beleza. Olhes para mim , peço-te minha querida. Deixai-me ser o mais feliz homem desta terra.

Atendendo ao seu pedido deixei que meus olhos contemplasse sua beleza. Marcius era robusto e viril, usava um corte de cabelo jamais visto na região ,provavelmente nem mesmo em toda Londres. Procurei traços que pudessem me dizer de qual país era esse forasteiro, não contive minha curiosidade.

- Marcius, perdoe-me por indagar-te de forma tão direta mas... - Por um instante julguei se poderia mesmo fazer tal pergunta.

- Pergunte-me o que quiseres minha senhorita. Dou-lhe minha permissão e creio que ninguém poderá escutar-nos daqui, afinal o vilarejo fica distante destes campos.

- Pois bem monsieur, poderia por obséquio dizer-me de onde és tua descendência?

- Venho de um lugar que poucos conhecem , nasci em um país chamado Brasil, onde pessoas são gentis, flora e fauna são abundantes. Falta-lhes um pouco de tecnologia ainda porém futuramente serão umas das maiores potências do mundo.

- Perdoe-me por minha ignorância, falais de forma que não vos entendo. O significa "tecnalgia" ? - ele sorriu e disse:

- Diz-se TECNOLOGIA, são melhorias . Deixai-me explicar melhor, veja, a roda quando fora criada era quadrada e hoje são redondas facilitando a locomoção das carruagens que transportam pessoas e alimentos. Isso é tecnologia. Pensas que sou um bruxo como as damas da alta sociedade?

Além de gentil ele era muito inteligente, os boatos de que Marcius era um bruxo nada condiziam.

- Não monsieur, sois inteligente como os criadores da roda.- Marcius aproximou-se de mim sorrindo , tocou meu rosto ;

-Tens algo dentro de ti mais forte que qualquer um que eu conheço e digo-vos que conheço muitas pessoas. Carregais consigo a força de algo que chamamos de oculto.

- Estais assustando-me monsieur.

- Peço-lhe minhas sinceras desculpas, não foi minha intenção.

-Conte-me por favor o que é isso que dizeis que possuo.

- Seria difícil mostrar-lhe durante o dia pois preciso que veja o que o sol esconde, elas estão lá mas não podeis vê-las. Venha durante a noite , aqui neste mesmo local e então ei de explicar-te. Podeis fazer isso?

- Sim, hoje mesmo estarei aqui assim que o sol se por.

- Esperarei por ti minha senhorita- De repente seu olhar tornou-se sombrio, havia tristeza e dor. Não entendi por que.- Mas peço-te que não te assusteis pois hoje será meu último dia nesse vilarejo.

- Irás embora? Para onde?

- Sim Ashylei, irei para um lugar que não posso levar-te comigo. No entanto nos reencontraremos um dia.

Dizendo isso Marcius ajudou-me ensilhando meu cavalo, retornei ao vilarejo sabendo que o reencontraria naquela mesma noite. As horas passaram enquanto eu completava meu dia com os afazeres.

- Ashylei, Ashylei!

Ruth entrava correndo pela porta da cozinha.

- Calma! Por que estais a correr?

- Ha rumores sobre uma peste mortífera. Escutei o monsieur Dimitri dizer ao Bispo que estamos condenados a perecer.

- Espero que estejas errado e que tudo não passe de mexericos;

- Imagino que não sejas mexerico minha irmã pois o Bispo disse que o vilarejo vizinho não resta mais ninguém vivo e que toda Londres está tomada pela peste negra.

- Minha irmã hoje mesmo ei de falar com monsieur Marcius para que nos leve consigo , creio que ele não ira se opor.- Marcius era nossa tábua de salvação.

Aquelas palavras ocuparam meus pensamentos durante toda tarde, minha última tarefa seria entregar as roupas limpas do senhor Dimitri e ele não permitia atrasos. Minha familia dependia da ajuda financeira, cruzei o vilarejo o mais rápido que pude, ao longe o sol dava sinais que a noite estava se aproximando. O som de uma canção conhecida chamou minha atenção, eu não precisava me virar para saber que era Marcius com sua voz melódica no entanto firme. Parado frente a porta de entrada estava o filho de Monsieur Dimitri, um rapaz de má reputação, vive em tavernas e perambulando pela noite fria de Londres.

- Boa tarde. Trago-lhe as roupas que vosso pai encomendaste.

- Muito boas tarde. - examinou-me de cima abaixo detendo-se em meus sapatos gastos, as ruas emburacadas de Londres não me permitiam ter muitos o que usar - Como sabeis Ashylei meu pai não tem tempo para coisas corriqueiras como essas e quem faz os pedidos é a governanta mas entre e espere no jardim.

A casa era grande , ao passar por Jack percebi que sorria de forma zombeteira , o que me enojava. Vi arabescos e afrescos em toda parte, o jardim muito bem cuidado com uma fonte ,reluzia os ultimos raios de sol revelavando o quanto ostentavam a fortuna pertencente a gerações. Parei junto a fonte, ouvi passos e quando virei-me vi Marcius parado próximo a porta. Sibilou algo que deveria soar como uma pergunta .

- Monsieur Marcius que bom vê-lo, creio que viestes tratar com meu pai. Não?- Jack o interceptou antes que chegasse a mim.

- Oh sim , vim tratar de assuntos particulares.

- Ele o aguarda no escritório, segunda porta a esquerda. Agora se me der lincença tenho compromissos a tratar se é que podeis me entender.

Marcius o segurou pelo braço e sibilou algo que novamente não pude entender, Jack o olhou estupefato e depois olhou diretamente para mim, senti uma onde invadir-me e fui arremessada para o presente.Mesmo após seculos ainda sinto sua presença, o toque de suas mãos em meu braço de forma delicada a principio tornando-se urgentes ao deslizar até meu pulso.

O rosto do guardião tornou-se visivel a minha frente.

-Como ousa dominar minha mente?

- Não gosta de brincadeiras Ashy? Como você era patética, possuia uma grande força dentro de si e desperdiçou. Acha mesmo que Marcius poderia te ajudar a fugir do que te aguardava? Quer saber o que ele disse ao jovem e audacioso Jack?

- Não quero saber de nada. Marcius está morto.

- Olhe bem ASHYLEi...

- Nunca mais repita o meu nome. Você não tem o direito.

- Vamos princesa escorpion, vamos sair daqui. Quero ver até onde você foi treinada e se é realmente capaz de deter o que espera a lua de sangue. Os Hakans estão de posse de 10 dos 12 artefatos ocultos, o que significa que viram atrás de você e de mim.

- Então você quer dizer que está aqui para me ajudar? Não confio em guardiões das trevas.

- Está esquecendo que você também é uma guardiã, concordo que não vejo o oculto dominando-a mas ele está ha todo momento lutando para isso.

- Certo. olhe não confio em você. Preciso fazer uma ligação.- Eu precisa falar com Claus sobre isso.

- Está brincando comigo, não é? Sabe que não precisamos dessas besteiras dos humanos, pode muito bem encontrar quem quer que seja.

- Não gosto de deixar meu lado humana e a única forma de ficar longe de vocês é não usar meus dons. Agora se me permite.

- Estarei do outro lado da rua. Alias meu nome é Antony.

- Vá tomar um café.

- Que senso de Humor. Mas aceitaria ceifar alguns medos.- revirei os olhos ao que parece todos os guardiões gostam de sugar o medo das pessoas- Certo nada de lanches.

Esperei que Antony se afastasse , embora eu sabia que ele poderia escutar tudo se quisesse mas preferi estar só antes de discar para Claus.

- Alô, diga Ashy. Como foi a caçada?

- Mais emocionante que você imagina. Preciso das informações do caso Hakan.

- Ao que consegui descobrir eles estão recrutando pessoas e buscando artefatos ocultos.

- Acho que eles tem ligações com Liliam.

- Por que pensas assim minha senhorita?

-Claus ,um guardião da primeira casa me encontrou.

-Ariane?! Estou surpreso por ela ainda te procurar.

-Não, não é Ariane. O nome dele è Antony o segundo decanato. Você o conhece?- Claus ficou em silencio por um instante então proseguiu.

-Fique longe dele Ashy, você não imagina com quem está lidando. Jamais mostre a ele o poder do seu oculto.

- Imagino que ele já saiba.

- Você mostrou a ele?! Oras Ashy não acredito que tenhas sido tão imprudente.- Gritos ecoaram do outro lado da linha, aí está. Este é o Claus que eu conheço!

- Acalme-se! Não mostrei nada a ele, não sei como mas ele invadiu minhas memórias . Pude sentir seu oculto.

- Ele usou com você o dom de Áries, podem ver o começo de tudo e assim abrir o caminho para conquistar um certo destaque. Não adimite covardia e era isso que estava procurando em você , algum traço que indicasse se você temeria a luta se ela surgisse.Mas cuidado Ashy, a casa de Áries é extremamente competitiva.- Eu sabia o quanto isso era verdade , me lembro muito bem de Ariane durante uma disputa de poder.- Ele sempre dará o primeiro passo

- Ficarei atenta.

-Ashy existe mais algum problema?

- Ele me fez lembrar de Marcius.

- Você terá de carregar isso por toda eternidade.

- Sim, eu sei mas ainda dói.
Esperei que a onda de raiva invadisse meu corpo mas nada aconteceu, somente o latejar acometido pelas pinças em minha homoplata.

- Ashy!

- Sim, estou aqui Claus.

- Creio que será inevitavel minha senhorita.

- Claus, eles já possuem dez dos dozes artefatos.- O som de algo se chocando contra a parede ecoou do outro lado da linha.
- Ashy?
- Sim. - Quando tornou a falar o tom de sua voz era de poucos amigos.
- Acabe com eles!- Claus sabia que eu não iria deixar por menos e o que ele disse era tudo que precisava escutar.
- Pode deixar! E a garota?
- Não se esqueça da garota, acho que isso deve ter alguma relação. Embora eu pense que isso seja uma armadilha. Ela tem apenas dezesseis anos, Ashy.
- Eu sei Claus preciso resgata-la antes da lua de sangue, se eles realmentr querem a espada de Scorpion iram mantê-la em segurança por enquanto. O que sabe sobre a garota?
- O nome dela é May Leen. É nascida no ano bissexto.
- O que isso quer dizer? - Com voz rouca ele disse:
- Ela é como você minha senhorita, os nascidos em ano bissexto possuem uma energia diferente ou seja eles podem escolher a qual lado da balança seguir.

Minha mente clareou com essa nova informação, então pude entender o que isso significava. Quando fui recrutada a balança regida por anciãos tentaram me aprisionar, um homem grande que cheirava mai me agarrou pelos braços e algo que não pude explicar aconteceu. Meu corpo vibrava com uma energia quente, parecia que pinças beliscavam por todo meu corpo. A energia era tangível para mim, os olhos cheio de medo do homem não deixava dúvidas ele sabia que estava diante de algo terrível. Eu era má. Segurei seu pulso, o girei até seu corpo contorcer-se de dor e com um estalo ele desabou no chão. Eu havia quebrado seu osso, o sorriso de satisfação do ancião que me observava de perto. Naquele momento uma nuvem negra pairou sobre mim envolvendo-me com tentáculos enchendo minha alma de pânico. Lembro-me bem o esforço que fiz para sufocar um gemido quando as mãos de Claus tocou minha face fria, algo estava errado eu podia sentir pois as lágrimas corriam por meu rosto, eu não queria matar aquele homem.
- Claus farei o que for preciso para achar May Leen.
- Estarei com você em dois dias. Creio que serei necessário agora minha senhorita. Até logo.
- Até.
Comecei a caminhar até a lanchonete onde o " Viking sedutor" deixava seu rastro de corações destruídos. Afinal o que acontece com essas humanas? Isso chega ser hilariante!
A rua estava agitada com a proximidade das datas festivas, um carro de polícia passou a toda velocidade. Agora que eles resolveram aparecer? Continuei em direção a lanchonete, parei na calçada onde havia ia um letreiro escrito Bomba Burguer. Tão original quanto a garçonete que possuía menos roupa do que maquiagem nos olhos. Antony eta todo sorriso para a garçonete, abri a porta e fui invadida por uma onda de tranquilidade eu sabia muito bem o que ou mais precisamente quem estava provocando aquilo. A garçonete não para de tentar exibir seus dotes para meu mais novo e indesejado colega, sentei-me do outro lado da mesa.
- Ashy quero que conheça a minha amiga...
- Cristina!- respondi sem me importar com a garota, que me lançou um olhar de " não fale, não respire, de preferência morra!"- Está escrito em seu crachá. - dissr apontando para seu peito.
- Obrigado ,Cristina. Apreciarei seu café. - Aquilo estava me enojando.
Para Antony um largo sorriso e para mim um olhar mortal, foi assim que a garçonete nos deixou. Até que o Bomba Burguer era aconchegante, as mesas eram dispostas de forma organizada cada uma com um cesto de molhos para que os clientes se servissem a vontade.

- Seu café vai esfriar, tomei liberdade de pedir pra você.

- Não era necessário, eu mesma poderia ter feito o pedido.- Respondi um pouco rude
- Duvido que Cris iria recebê-la tão bem quanto eu. - Então agora Cristina a garçonete era Cris? Muito interessante para quem havia sido arrogante com uma pobre moça indefesa minutos atrás! Pensei.
- O que aconteceu com o arrogante de minutos atrás?
- Não me teste Ashylei- seus olhos faiscavam com algo que eu sabia , era perigoso. Mas não chega perto do que é domar Scorpion.
- Eu já te disse que você não é digno de pronunciar o meu nome.

A atmosfera calma de antes foi substituída por uma energia crepitante. Estava claro que isso seria complicado.
- Vamos direto ao assunto princesa Scorpion, só há uma forma de evitar que meu artefato seja tirado de mim.
- Assim comi você o tirou de Ariane?
- Não duvide de mim Ashy! Eu e Ariane apesar de possuir-mos casa diferente somos amigos, ela está incapacitada de assumir seu posto. Estou defendendo minha casa somente isso! E aqui não é lugar para conversar sobre isso. Há espiões dos Hakans por todo lugar.

Me dei conta de que ele estava certo, afinal, a casa de Áries é muito conhecida por sua capacidade e tenacidade, muito sagaz e se ele estava dizendo que aqui não é lugar apropriado eu não teria escolha. Ariane teria feito o mesm, se ele herdou os mesmos traços com certeza é muito inteligente,
- Certo. Esxite um lugar, um campo neutro. Você não poderá usar seus dons em mim.
- E você não poderá usar os seus, isso não é o que eu esperava de uma guardiã.
- Você é um guardião das trevas! Eu não!
- Se é isso que você quer acreditar... - Deu de ombros.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada, apenas seria mais prudente um de nós estar preparado se algo acontecer. Sei de que lugar você está falando.
- Sabe?
- Sim, sei. É o ponto de equilíbrio, nenhum guardião pode usar seua dons, apenas os mais fortes ainda conseguem uma centelha de poder. Mas você... - fez cara de desdém! - ... Você é patética!
- Vamos sair daqui e pare de me irritar.

Era melhor eu sair logo, Scorpion já dava sinais de irritação com as provocações, as pinças começaram a roçar minha omoplata. Respirei fundo enviando pensamentos a ele para se acalmar, por fim Scorpion se aquietou. Antes de sair Antony chamou a garçonete, piscou ao enfiar uma nota de cem reais nos seios dela, esse cafezinho saiu mais caro que eu imaginava. Não que eu me importasse com isso, riqueza é algo que acumula-se com o passar dos anos , claro que alguns de nós os esbanja com tanta facilidade. Estávamos do lado de fora quando senti uma onda me invadir, eu sabia que isso não era um bom sinal.
- Então vamos?
Levei um tempo para processar o que Antony dizia.

- Por aqui- Indiquei uma rua estreita que nos levaria para o lado verde da cidade, se eu tinha alguma chance seria perto de um lago com água corrente. Sou regida por Plutão conseqüentemente a água faz parte do domínio de meu decanato não tão forte quanto a casa de Peixes e Câncer, nunca queira entrar em conflito com esses guardiões, eles estão sempre um passo a sua frente. São ótimos estrategistas! Mas como meu elemento é água posso aumentar minha força.
- Pensri que iríamos a um campo neutro. - indagou Antony.
- Esse é um ponto de equilíbrio, veja.
Antony abaixou-se tocou a terra, levou um punhado até as narinas e a cheirou depois deixou cair lentamente mas seu olhar estava fixo nos meus. Levantou-se veio até mim e disse:

- Um ponto de equilíbrio. Você não é tão burra quanto eu pensava- Andou mais alguns metros repetindo o mesmo que havia feito antes.- Realmente interessante! Vai usar os elementos ao seu favor? Mesmo se alguém nos atacar seria difícil, poucos metros daqui e você poderia invocar Scorpion se quisesse. Agora você pode baixar esse escudo que te cerca.

Minha expressão de espanto e o sorriso dele denunciou que ele estava certo. Durante o trajeto criei um escudo que me envolvia tanto para clarear minha mente quanto para proteger as pessoas de Scorpion. Extremamente sensível a qualquer ameaça. Não quero pessoas correndo em pânico por causa de um escorpião tamanho gigante e muito irritado. Quando poderei estar em harmonia com ele? Isso eu não sei. Olhei para o Viking , empurrei o mais fundo os meus sentimentos.
- Você disse que gostaria de conversar. Então vamos acabar logo com isso. Agora!
- Você é bem mandona. Sabia?- Queixou-se.
- E você é muito petulante.- Retruquei.

O Viking sedutor sentou-se em um tronco, fez um gesto para que eu me sentasse ao seu lado, algo que me pareceu íntimo demais.
- Não mordo, exceto se lindas mulheres de cabelos negros e lábios vermelhos sangue me pedirem com jeitinho. - Deu um sorriso tentador. Só em seus sonhos mais loucos, pensei- Pode recuar seu domínio, Ashy? Chamaria menos atenção, posso senti-lo a quilômetros se distância. Foi assim que cheguei até você essa noite e confesso que não foi fácil, você se esconde muito bem. Ashy estou em missão de paz!

Ergueu as mãos em sinal disso. Olhei ao meu redor, não havia perigo e a qualquer sinal eu estaria pronta para o ataque. Quando retornei olha-lo vi seus olhos fechados, o único indício de vida era o subir e descer de seu tórax. O movimento sutil dos lábios indicava que algo em latim estava sendo sussurrado. O ponto de equilíbrio não nos permite dominar o oponente, usado constantemente pela balança, mas este há muitos anos deixou de ser usado não sei porque... De repente seus cabelos louros perderam sua cor, a pele clara assumiu um bronzeado caribenho, quando abriu os olhos o azul profundo deu lugar ao verde mais intenso que já vira em séculos de minha existência. Eu deveria estar com uma expressão de surpresa pois o largo sorriso estampou seu rosto.

- Imaginei que deveria ser o primeiro a fazê-lo, assim você poderá confiar em mim. - disse-me.
- Certo!- então sussurrei- " Umbre". - fiz o sinal e Scorpion soltou-se de minhas costas indo se alojar em meu peito não sem antes olhar em meus olhos como se estivesse prometendo que estaria ali sempre que eu precisasse, que não me abandonaria, afinal, amigos fiéis jamais se abandonam. Por fim a tão conhecida dor de uma picada no peito e Scorpion se alojou dentro de minha pele.

- Umbre? É assim que você invoca Scorpion, com sombras?
-Não invoquei Scorpion. - Eu jamais diria a ele que recuei as minhas sombras e que Scorpion também estava livre, apenas permanecia junto a mim por decisao dele. Ainda não posso domina-lo por completo.

- Certo, então venha. Sente-se tenho muito a lhe dizer.
- Não, obrigado. Ainda não sei se posso confiar em você.
- Como preferir. O que você sabe sobre os Hakans?
- Não muito- Não revelei o que sabia por precaução- O que você sabe?
- Muito, a começar pela aliança que fizeram com os membros da balança. Acreditam que se unirem os artefatos das doze casas poderam despertar a força do oculto mais temível e domina-lo - ele apontou um dedo para mim e seus olhos ficaram sombrios- Uma vez que a guardiã da primeira casa esteja impossibilitada.

- Como impossibilitada? Guardiões só podem ser mortos pelo próprio artefato.
- Vejo que você nada sabe! Até onde seu tutor lhe ensinou? Certo! - respirou profundamente e prosseguiu- Um guardião pode ser morto pelo seu próprio artefato, no entanto, existe uma forma de deixa-lo incapacitado por um longo tempo e até mesmo leva-lo a morte. Nosso corpo é composto de vários...

- Vários pontos de energia- o interrompi- Nosso chacra.
- Sim, existe um simbolo antigo usado somente pelos membros da balança. Ele sela essa energia e como você bem sabe só podemos invocar nosso decanato através dele. Ao que parece mais alguém alem da balança aprendeu usa-los.
Levei minhas mãos até os lábios sufocando um gemido.
-Ariane! Você usou em Ariane para ficar com o domínio da primeira casa? Como pôde? Seu filho da p...
- Jamais! - Subitamente ele ficou de pé com os punhos cerrados ao longo do corpo- Eu jamais faria isso, Ariane os transferiu para mim um dia antes de ser encurralada. Creio que ela já sabia o que poderia acontecer. Tenho uma ligação profunda com ela, daria minha vida a ela se necessário. O laço que nos une é maior do que você possa imaginar.
- Sinto muito, não sabia que vocês eram íntimos.- " Não seja tola Ashy, esse Viking já tem dona" censurei a mim mesma em pensamento. Afinal por que esses pensamentos estavam rondando minha mente ?
- Eles precisam de uma garota pura nascida no ano bissexto para o ritual, os artefatos e a garota são a chave para despertar o lado negro... - Ele parecia escolher as palavras, por fim continuou - ... Seria mais como um ressurgir do que despertar.
- O lado negro... Vamos termine! - ralhei.
- O lado negro de Scorpion!

Horrorizada com a revelação senti o chão oscilar sob meus pés quando dei-me conta da mortandade que estava por vir.
-Isso não pode acontecer. Como impedir isso?- Olhei suplicante para aqueles olhos verdes.- Se você me matasse? Isso acabaria. Certo?

- Não é bem assim que funciona, a garota May Leen seria a nova guardiã. Tudo indica que o coração dela é mais negro que o seu, eles irão te usar para transferir o poder para ela assim como o seu tutor fez com você. Existe uma forma mas é muito arricado, você teria que treinar, isso levaria anos até que você estivesse pronta e precisaríamos dos pergaminhos.

Mas uma vez as coisas esbarravam nos pergaminhos. Com uma força que eu jamais poderia imaginar, endireitei os ombros, tínhamos que encontrar uma pessoa.
- Vamos atrás de Lilian.
- Ela também está incapacitada será fácil encontra-la, fique tranqüila Lilian não passa de um peão nesse jogo.
- Nossa história é mais antiga do que você imagina.

Uma flecha zumbiu ao passar por mim. Fui lançada ao chão por aquele Viking, ele era mais pesado do que eu pensei. Passos em nossa direção eram cada vez mais intensos. Calculei em torno de 45 pessoas entre homens e mulheres, estava me preparando para a batalha.